sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O Céu Nos Observa

SINOPSE
A proposta do documentário para web O CÉU NOS OBSERVA é criar interferências numa imagem da cidade de São Paulo a ser captada por satélite. Através de ações criadas por pessoas mobilizadas por uma chamada pública, o documentário propõe uma discussão sobre a capacidade de interferir coletivamente nas estruturas de controle e vigilância de escala global. Um processo poético de criação de “ruídos” na representação da metrópole.

JUSTIFICATIVA
O mapeamento que atualmente podemos ver através do Google Earth é um índice radical do mundo contemporâneo. A produção de imagens foi muito além do que poderia prever Guy Debord na “Sociedade do Espetáculo” ou George Orwell na realidade totalitária de “1984”. O mundo está rastreado em sua totalidade, toda a superfície da Terra está definitivamente registrada, controlada e vigiada.

A “mágica” produzida por centenas de anos de desenvolvimento tecnológico – em muito alimentada pela estratégia militar – permitiu um grau colossal de processamento de informações. Nossas vidas circulam criptografadas nas redes de comunicação; nossos passos são monitorados; nossas casas podem ser vistas de muito acima, numa visão quase onipresente.

Nesta relação parece que nos resta a passiva resignação diante do incomensurável mundo novo. O que fazer diante de tão invisível e dominante poder? Como reagir a constante vigilância do mundo contemporâneo? Como interagir com a escala das estruturas globais?

Para o artista, esta relação contemporânea do indivíduo diante de forças completamente desproporcionais é fonte de investigação e criação; um campo aberto à proposições que geram outras perguntas e questionamentos.

O “mundo vigiado” foi ponto de partida para investigações e criações de grupos como Surveillance Camera Players , que cria peças de teatro para câmeras de vigilância ou roteiros turísticos para o público admirar as câmeras que nos vigiam. De maneira irônica, artistas se auto-representam num jogo de forças diante da construção da subjetividade coletiva.

Também neste sentido, as experiências recentes de intervenção urbana que somam a escala das ações nos desertos do oeste norte-americano das obras de Land Art2, à noção de transformação do ambiente urbano, trazem uma perspectiva de construção simbólica de um outro mundo. Entretanto, no espaço da metrópole contemporânea, caótica, desordenada, em constante movimento, não basta produzir sentido “linear”. Ao contrário, depende-se da descontinuidade do ruído. O ruído entendido como desvio do cotidiano. A interferência age como ruído, modificando o fluxo normal das coisas.

Neste processo de continuidade alterada, a interferência urbana passa a ser uma estratégia artística para revelar a impossibilidade de contato e transformação plena do espaço urbano pelo indivíduo. Afinal, o sujeito urbano apenas pode transformar sua relação com a representação da cidade.

O documentário para web O CÉU NOS OBSERVA pretende abrir estas perspectivas de reflexão através de uma ação pontual e simbólica: a interferência coletiva numa imagem de satélite de São Paulo.

A proposição de gerar uma mobilização coletiva para criar pequenas ações-ruído numa imagem a ser produzida por satélite revela uma possibilidade simbólica de interferência no processo de mapeamento da cidade. As interferências “reais” no espaço urbano transformam-se em ruídos digitais no processo de decodificação da imagem.

Se a sinfonia de informações é tão gigante e complexa, deixemos nossas marcas visíveis. Se a capacidade de olhar é tão potente que nossos olhos, então, possam ser vistos. Se o céu pode nos vigiar que deixemos nossas mensagens para além dos nossos telhados.

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1. www.notbored.org/the-scp.html
2. http://pt.wikipedia.org/wiki/Land_Art

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